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segunda-feira, 20 de abril de 2015

CORTÁZAR, Julio. In: O Jogo da Amarelinha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.


Mais uma leva de citações. Desta vez foi Cortázar o escolhido, dentre os nomes que leio no momento. Estou amarrada na leitura de Virgínia Woolf (Noite e Dia) e Rudyard Kipling (A casa dos desejos e outros contos escolhidos por Jorge Luis Borges), portanto precisava retornar ao febril Cortázar e desamarrar um pouco a atualização deste amado espaço.
Me apaixonei pela escrita fluida de Julio. Há tempos tenho tido contato com este trabalho, mas em "O Jogo da Amarelinha" a situação se tornou irreversível.

Fica o recorte e a dica de leitura.

Irei sentindo cada vez menos e recordando cada vez mais, mas o que é a recordação, afinal, senão o idioma dos sentimentos, um dicionário de rostos e dias e perfumes que voltam como os verbos e os adjetivos no discurso, adiantando-se disfarçados, à coisa em si, ao presente puro, entristecendo-nos ou lecionando-nos vicariamente até que o próprio ser se torna vicário, o rosto que olha para trás abre muito os olhos, o verdadeiro rosto se mancha pouco a pouco como nas velhas fotografias e Jano, de repente, é igual a qualquer um de nós. (Capítulo 21 - p.116)

sexta-feira, 6 de março de 2015

Máquinas de escrever


Quando criança eu desejava uma máquina de escrever. Se hoje os computadores encontram correspondentes entre os brinquedos nas prateleiras das lojas, naquela época as máquinas de escrever eram produtos em potencial para crianças: coloridas, revestidas de desenhos de personagens famosos, cheias de brilhos e texturas eram disponibilizadas nas prateleiras por preços não tão bonitos assim.
Minha mãe não queria comprar aquilo. Na verdade sei pouco sobre o que realmente motivava mamãe a não querer aquele objeto em casa, mas posso deduzir de forma simples que ela não queria na calma do lar um objeto caro, barulhento e que reinava em seu trabalho.
Me pergunto se eu teria vingado nas artes da escrita se tivesse em mãos, aos sete anos de idade, uma máquina de escrever com todo o seu charme e barulho. Uma vez que ler sempre fora algo presente, escrever se tornaria (se tornou?) uma consequência, como o é em meus muitos cadernos.
Não sei pensar em nada diferente disto. Posso traçar uma linha firme, do meu letramento até os dias de hoje, sobre os sabores e dissabores com a leitura. Sinto que passei com saúde por todas as fases da leitura: a infância em que testei limites sensoriais; a juventude desafiadora e curiosa, tateando entre o ruim e o bom texto, desejando encontrar algo que substituísse minha voz; a vida adulta que degusta o pouco tempo que tem para a leitura, admira grandes narrativas e poemas, tem vergonha (por vezes) dos bobos nomes que leu na adolescência, mas ainda assim agradece cada voz que ajudou na jornada até os dias de hoje.
Não me classifico como uma leitora compulsiva. Não leio qualquer livro que me cai no colo. Mas não menosprezo os que não nutro um interesse, apenas não tenho desejo pela leitura daquele texto. Ler me acalma, me delimita um pensamento no turbilhão diário. Me torna. Em quê, ainda não arrisco responder.
Já escrever foi algo distinto, surgiu da necessidade, no preenchimento de algo que não nomeei ainda, mas pode ser alguma coisa da ordem do espírito. Faço acordos comigo na hora de construir minha narrativa. E nenhuma qualidade escrita por mim neste texto pode descrever de forma competente como é esta narrativa. 
Só para constar, ganhei uma máquina de escrever aos 27 anos. Foi um dia lindo.